terça-feira, 26 de agosto de 2008

CINEMAS 1, 2 E 3 FOREVER

Infelizmente, as três salas da São Pedro fecharam semana passada. Sem dúvida, ficaram na história, nas lembranças e nas emoções de cada cinemaníaco que ali esteve nestes 30 anos de exibição e que nunca deixarão de lembrar a sua existência e sua importância nestas três decádas. Em nome de todos que fizeram estes cinemas funcionarem em todos estes anos, agradeço de coração ao público de Belém. Que o sonho que se terminou aqui, faça gerar novos sonhos na área de cinema. Afinal, a vida segue mais leve e com a sensação de missão cumprida.
Espero que alguém conte um dia a sua história vivida nestes cinemas. Tenho certeza que estas histórias dariam ótimos filmes que certamente seriam exibidos pelos Cinemas 1, 2 e 3.
Obrigado Belém ! Cinemas 1,2 e 3 forever !

"PERSEPÓLIS" NO PROJETO MOVIECOM ARTE


Dentro do projeto MOVIECOM ARTE, que tem o apoio da ACCPA (Associação dos Críticos de Cinema do Pará), será lançado dia 29/08 o premiado "Persepólis". No filme , uma garota sonha em se tornar uma profetisa para salvar o mundo. Mas, quando o novo regime no Irã a obriga a usar véu, ela decide se tornar uma revolucionária. O filme recebeu uma indicação ao "Oscar" e foi premiado em vários festivais. Anote e procure apoiar os filmes exibidos dentro do projeto Moviecom Arte. Os ingressos são especiais : R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia).
Nesta primeira fase do projeto, serão exibidos filmes em cópias digitais. E em breve, dentro do projeto, poderemos ver "Santiago", "Antes que o Diabo saiba que Você Está Morto", "A Banda", entre outros títulos inéditos na cidade. Aproveite. Afinal, se reclama tanto que não passa filmes bons na cidade, logo, temos que aproveitar o que este projeto está nos trazendo de bom. Vamos lá !
Marco Antonio Moreira

INGMAR BERGMAN


INGMAR BERGMAN
Artigo de Maiolino de Castro Miranda,
Psiquiatra, crítico de cinema, professor aposentado da Universidade Federal do Pará

Bergman por Bergman - “Os personagens de meus filmes são exatamente como eu: animais movidos pelos instintos e que raciocinam enquanto falam. Em meus filmes a função intelectual é relativamente reduzida. O corpo constitui a parte principal com um pequeno tubo que o comunica com a alma.” “O tema de meus filmes? Experiências vividas.” “A função de ponto de mira desempenhada pelos artistas me constrange profundamente. São eles que estão sempre em cena ou diante da câmera. São eles que se expõem, até o esqueleto, enquanto nós estamos protegidos e podemos fugir de qualquer situação com um sorriso ou uma pilhéria. Eles não. Não podem fugir nem errar, tem de permanecer lá, com seus corpos e rostos. É a decência mais elementar portanto que nos faz tomar sempre o partido dos atores.” “O único gesto que realmente vale a pena é o que estabelece contato, o que comunica, o que sacode a passividade e a indiferença das pessoas.” “Nós dormimos no sapato de nossa infância.” (Marie Wine) Ver as autobiografias “A Lanterna Mágica” e “Imagens”.
Morangos Silvestres têm estrutura narrativa clássica, com um processo de purificação e de catarse aristotélica (influências do teatro). O filme é simples, podendo ser interpretado como um road movie. Essa viagem interior permite excursionar em todas as direções. Ver “A viagem à Itália” de Rosselini e “Pierre le fou” (“O demônio das 11 horas”) de Goddard. Segundo Henri Agel em “Le cinema a-til une àme?” ( O cinema tem uma alma?) ,o que caracteriza o verdadeiro cineasta é que eles escolhem a crônica como narrativa.
A obra de Bergman e Michelângelo Antonioni tratam, ambas, com estilos diferentes, do tema da incomunicação entre os homens e entre os homens e a divindade (ver “Passageiro, Profissão Repórter”, a cena final). Para o poeta Ezra Pound, os grandes artistas são antenas sensíveis da raça que captam as crises do mundo e representam o que é essencial em cada civilização. Os filmes de Bergman se situam numa longa tradição do cinema sueco, de M. Stiller, Sjoberg, Victor Sjostrom. Bergman questiona em “Através do espelho”, “o direito do artista comportar-se como parasita social”.
Em “O 7º selo”, Bergman escolhe o artista medieval como modelo ético de conduta.” Ele se identifica com o artesão anônimo, que construiu junto com outros anônimos como ele, a Catedral de Chartres. Parece que na época moderna a Arte perdeu seu impulso criador no instante em que se separou do culto religioso (Ver Walter Benjamin – o conceito de “perda da aura”, inspirado na noção de desencantamento do mundo de Max Weber). Cortou o cordão umbilical e agora vive sua própria vida estéril, procriando e prostituindo-se (Ver o ensaio crítico sobre Bergman “40 obras”).
No passado, o artista permanecia na sombra, desconhecido e sua obra era para a glória de Deus. Vivia e morria sem ser mais ou menos importante que outros artesãos, “valores eternos, imortalidade e obra-prima eram termos inaplicáveis em seu caso. A habilidade para criar era um dom. Num mundo semelhante floresciam a segurança invulnerável e a humildade natural.” Em “A fonte da Donzela”, Bergman reconstrói a noção de sagrado num mundo desencantado, sacralizando o Amor – mas em matéria de amor – diz o personagem de Cenas de um Casamento – “somos todos analfabetos”.
Influências estéticas recebidas por I. Bergman: o expressionismo alemão de Murnau e a Kamer spiel e Erich Stroheim, a estética de Eisenstein. O realismo de “Viagem à Itália”, de Rosselini. “O Grito” de Antonioni com Álida Valle. O realismo lírico de Marcel Carné e Ed. Duvivier. “Acossado” (A Bout de Souffle) de Jean-Luc Goddard usa a técnica teatral na qual o personagem dirigi-se ao espectador, quebrando o halo de fantasia pela introdução da realidade.
Dentre a imensa filmografia de Bergman (mais de 50 filmes) destaco três núcleos narrativos temáticos: a primeira fase que começou como excelente roteirista de Alf Sjoberg de “Hets” (Tortura do Desejo), a criação de um clima de angústia, opressivo, sombrio, talvez a semelhante inicial do clima de angústia existencial da obra de Kierkgaard (precursor do Existencialismo) “Tratado do Desespero Humano”, “O matrimônio” e “As dores do Mundo” de Shopenhauer com sua visão pessimista da vida. O idealismo kantiano e o existencialismo de Sartre em “O ser e o nada”. Muitas dessas supostas influências filosóficas citadas pelos críticos são difíceis de identificar em seus filmes.
Três temas se destacam: na primeira fase (de 1945 a 1950) com “A Prisão” (Fangels), aborda as ansiedades imaturas de jovens desgarrados em busca do hedonismo, descoberta da vida sexual e um sentido para suas vidas. Bergman realizou trilogias e tetralogias.
A trilogia sobre o silêncio: “O silêncio”, Luz de Inverno”, “Através do Espelho”, sobre o tema da extrema solidão do homem, Bergman (meus filmes tem sempre algo de mim) que clama desesperado para um Deus aparentemente frio e indiferente aos apelos humanos.
O tema dos conflitos psicológicos. Trata da identificação: “Persona”, “O rosto”, “Vergonha”, “Paixão de Ana”. Os conflitos familiares: “Cenas de um casamento”, “A hora do amor”.
Temáticas psicanalíticas: “Morangos Silvestres”,“Gritos e Sussurros”. Temática metafísica: “O 7º selo”. O autobiográfico “Fanny e Alexander”. Considero Morangos Silvestres seu filme mais maduro, porque harmoniza temas da experiência de frustrações amorosas, falta de sentido para a vida usando reminiscências. Sonhos, o pesadelo misturando conceito psicanalítico de neurose de repetição de conduta.
Influenciou o cinema de A. Tarkovsky, Woody Allen, Jonh Cassavetes “Faces” e no Brasil Walter Hugo Koury. Amava os filmes de Chaplin e John Ford.
Estilo: aproveitou sua imensa experiência como dramaturgo. Dirigiu mais de 150 peças de teatro universal, dos clássicos gregos a Shakespeare, Molière, T. Williams e principalmente a obra de Strindberg, para fazer um cinema centrado na arte da dramaturgia. Meticuloso como Kubrick na construção de um clima dramático. O domínio da Arte de representar, a seleção da mesma equipe de grandes intérpretes, a aliança com o fotógrafo SvenNykvist.
Um dos poucos cineastas que sabe usar a cor como elemento dramático, uso funcional em Gritos e Sussurros: o quarto em vermelho e ausência do azul. Realizou comédias, farsa burlesca como “Sonhos de uma noite de Amor”, baseado na obra de Shakespeare. Temática feminina: “Quando as mulheres esperam”. Relação com a música: “A flauta mágica”, “Saraband”, “Ensaio de Orquestra”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Cinemas que acabam

Cinema de rua morreu. O exibidor alega os motivos: praticidade, segurança, custo operacional menos aflitivo, capacidade para mais de uma sala (os chamados multiplexes).
O novo funeral em Belém é do trio da rua S. Pedro: Cinemas 1, 2 e 3. O primeiro e o segundo foram inaugurados no dia 29 de junho de 1978. O último em agosto de 1987. Eu estive presente na geração e no parto. Antes, dirigia um cine-clube e tinha Alexandrino Moreira como referência. Era não só o mecenas, mas o apaixonado pela arte cinematográfica, o bastante para empregar dinheiro de seu bolso na construção de cinemas.
Em principio seria uma sala. Depois, seguindo conselho de um distribuidor de filmes radicado em S. Paulo, o projeto abriu espaço para mais uma. O terreno já era de Alexandrino, na então desprezada S. Pedro, rua de terra batida, cheia de buracos que formavam “piscinas” em época de chuva.
A idéia era tão utópica que a firma criada para construir os cinemas ganhou o nome de Cinema de Arte do Pará Ltda. E eu programei as salas por 1 ano, fazendo até mesmo os anúncios para jornal. Quase as matava com a minha rigidez em passar só clássicos da chamada Sétima Arte.
Felizmente saí em tempo. Veio o meu compadre Hailton Magalhães, que era funcionário da empresa Severiano Ribeiro. A Columbia Pictures passou a ser a base dos lançamentos. O aspecto comercial ganhou tempo e espaço. E muitos sucessos aconteceram, até quando a concorrência passou a racionar os filmes e todos os motivos que maculam uma cidade grande, como a insegurança, foram chegando.
Alexandrino jogou a toalha em 2006. Mas a Moviecom pediu para arrendar as salas e as manteve até 21 de agosto de 2008.
Hoje tudo é história. Mais títulos para o “já teve” de uma Belém que se recicla, que certamente não é mais a mesma de quem, como eu, passou dos 70.
Mas a vida continua. A própria firma Moviecom abriu 5 cinemas na mesma rua, no shopping Iguatemi-Belém. Outro shopping a chegar deve ter mais 7 salas. Cinema persiste. Como dizia Lavoisier, “nada se perdem tudo se transforma”. O que se perde, e isto não foi deduzido pelo pai da química, é o amor por um feito. E é uma coisa tão subjetiva que nem a História grava. (Pedro Veriano).
O ESCAFANDRO E A BORBOLETA

Jean Michel Basquat comparava a sua situação depois de um derrame como um escafandrista dentro d’água. Procede a idéia de prisão: restou-lhe apenas o movimento de uma pálpebra. Uma borboleta seria quem o ajudasse a se comunicar com o mundo.Pode ser a sua esposa, de quem estava se separando, como pode ser a sua fonoaudióloga, que lhe ensina a usar cada mexer de pálpebra como uma letra do alfabeto. Dessa forma Basquat consegue até escrever um livro, “O Escafandro e a Bprboleta”(L’Escaphandre et le Papillon) afinal o titulo de um filme..
O fato é real. O filme, dirigido por Julian Schnabel, tempera o drama com requisitos capazes de atender ao público de cinema. Mas no começo faz-se apenas “câmera olho”, ou seja, se vê o que Basquat vê. É incômodo tantos minutos, num cinema, olhando imagens distorcidas ou deslocadas. E o ângulo visual é restrito. É preciso abandonar o doente e passar a visão para quem atende ao doente. Isso e as lembranças, que furam o bloqueio orgânico e levam o paralítico, ex-redator da revista “Elle”, para cenários que lhe fizeram feliz.
Há momentos marcantes. Um deles é num domingo, quando Basquat se refere à solidão que fica no hospital e a gente o vê numa cadeira de roda em um salão imenso. A tomada evidencia bem a pequenez do homem diante do espaço que ele não pode desfrutar. O drama é de uma solidão imensa deixada pela imobilidade física. E é pontuado pela canção “La Mer” que traduz melhor a metáfora da situação do personagem (o homem imóvel no fundo do mar).
Desníveis rítmicos podem ser considerados naturais. A hesitação de usar a primeira pessoa é compreendida na necessidade de narrar em imagens, embora não se despreze a “voz do pensamento” do literal paciente.
Um bom filme que entre nós inaugurou um programa dedicado ao que se chama de “filme de arte”. (Pedro Veriano)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

LONGE DESTE INSENSATO MUNDO

James Hilton no prólogo de “Horizonte Perdido”(Lost Horizon) pergunta quem na vida não desejou, por um momento, ficar em paz no campo, criando galinhas. Eu jamais criaria galinhas, mas já pensei em morar no Mosqueiro da minha infância, hoje uma espécie de Brigadoon, aquela cidade encantada que surgia um dia em cada cem anos. A paz de espírito certamente está longe do barulho e da mediocridade. Naturalmente que a cada um cabe a sua Shangri-la, terra bem-aventurada de Hilton. E por aí se entende Chris O’Connel em sua viagem ao Alaska, base do filme de Sean Penn “Na Natureza Selvagem”(Into the Wild).
O fato e o filme distam apenas o mínimo para o espectador de cinema gostar do que está vendo. Com musica de Eddie Veder, fotografia esplendorosa de Eric Gautier, e um desempenho apaixonado de Emile Hirsch- além de uma ponta apaixonante do veterano Hal Holbrook – o que se vê é a tradução do sonho de um jovem estudante norte-americano que reage ao jugo paterno, que ele descobre mascarar um comportamento adultero e violento, que por essas e outras deixa tudo para se embrenhar no mato, ou melhor, seguir estrada, pensando no Alaska como o seu horizonte perdido, ou melhor, desejado.
O verdadeiro Chris morreu comendo veneno pensando em erva nativa. Ninguém o viu morrer, na carcaça de um ônibus, mas o filme mostra-lhe gritando. Nada mais criativo do que deixar o sonhador soltar a voz, em desespero, quando vê o sonho esvoaçar, como um despertar macabro. Aliás, pouco antes disso ele vê um urso. Está tão depauperado que fica inerte, deixando mo animal cheirar seu corpo e sair sem molestá-lo. A fantasia da natureza selvagem passa ao largo.
Um belo filme. Quando eu vejo um filme em que o conjunto me atrai, dispenso cochilos como o relógio do herói que ora está ora não está em seu braço. Vale seguir o caminho do relaxamento sem precisar criar galinha. Cria-se outros sonhos adiante da tela. (Pedro Veriano).

sábado, 9 de agosto de 2008

CONFLITOS FAMILIARES

Paul (Romain Duris) e Jonathan (Louis Garrel ) vivem com o pai (Guy Marchant) num apartamento em Parris. Paul sofre a despedida de Ana (Joana Preiss), sua mulher. Jonathan apresenta aos espectadores a família e introduz todos à história que passa a ser contatada. Aliás, “Em Paris” (Dans Paris/França,2006), não apresenta propriamente uma história tradicional. Basta dizer que trata de personagens que vivem remoendo emoções. Enquanto Paul curte a “fossa”, Jonathan programa diversos encontros com mulheres e o pai deles, Mirko(Guy Marchant), separado da mulher (Marie-France Pisier), procura manter uma rotina onde faz a vez de dono da casa, inclusive cozinhando para si e para os filhos. Quando a mulher o visita, lembranças conflituosas logo a afastam. E todos sentem sempre a ausência da irmã/filha que se matou há três anos.
O filme escrito e dirigido por Christophe Honoré segue uma narrativa muito próxima dos primeiros trabalhos de François Truffaut, vale dizer dos primeiros exemplares da “nouvelle vague”, movimento de renovação estética que sacudiu o cinema francês no final dos anos 50 e expandiu a sua característica por diversos paises, inclusive o nosso (“cinema novo”).
A narrativa permite alguns “flash-backs” e nem sempre se deixa escravizar pela continuidade do plano. Isto quer dizer que se você está vendo uma figura em determinado ângulo na próxima tomada ela pode estar em outro ângulo. Não importa. O que vale é a dimensão da afetividade de cada um, de como se constrói as personalidades e se estuda o comportamento.
A ação tem lugar no tempo de Natal e isto reforça o quadro familiar proposto. Um plano de Mirko arrumando a árvore natalina com Paul é bem ilustrativo do que o cineasta deseja que se observe. O velho ressalta o tempo em que ele e os filhos festejavam o Natal, armando arvore e trocando presentes, coisas que de há muito deixaram de fazer. Lembram de que a alegria da festa esmaeceu com a morte de uma pessoa querida. E acabou, praticamente, quando a matriarca deixou a casa e passou a fazer parte de outra família.
Dissabores testam quem vive em um pequeno espaço, mas de onde se vê a Torre Eifell, símbolo da capital francesa. O enfoque urbano é realçado para se definir a classe social e a vivência cultural. Quem no começo do filme Jonathan se posta como um corifeu, pretendendo contar tudo e acabando por considerar que “não é figura principal da narrativa”, é uma referencia para o que menos importa(ou aparece). Talvez por ele ser o tipo que não sofre com amores contrariados.
O desfecho é como um dia que termina na cidade grande. A vida continua nas ruas, as pessoas estão preocupadas com os encontros de fim de ano, o trio de homens que dividem um apartamento vão continuar pedindo por melhores tempos. Não confessadamente, mas sempre tentando.
“Em Paris” não chega a ser “retrô” ou um simples aceno a um tipo de cinema. Tem luz própria numa direção que utiliza uma linguagem moderada, procurando sempre os caminhos da poesia como uma saída para as crises existenciais. Por isso é um filme bem interessante embora não emocione com um potencial melodramático nem estimule um distanciamento bretchiano, restringindo-se à missão de tratar de certos habitantes de Paris no inicio deste século da forma mais livre possível. .

VIAGEM DRAMÁTICA

Um operário nascido em Cabo Verde, antiga província portuguesa na África sofre um acidente em uma mina, em Lisboa, e é internado em estado de coma. Os médicos não conseguem reverter o quadro e se espantam quando chega um pedido para que ele seja devolvido à sua terra natal, atendendo aos familiares. Nesse momento é designada uma enfermeira, Mariana (Inês de Medeiros ) para acompanhá-lo.
“A Casa de Lava” é uma observação de culturas dispares. Através de Mariana o espectador vai conhecendo gente de uma vila africana, ao tempo em que se acompanha o problema de Leão (Isaach De Bankolé ) o enfermo.
Numa linguagem que retira o estilo documental para a observação introspectiva o diretor-roteirista Pedro Costa exibe a condição da moça da cidade grande que procura se ambientar num espaço primitivo (nesse ponto o filme mostra Cabo Verde como um lugar selvagem) , ao mesmo tempo em que se volta para o drama do doente que ela ajuda, apresentando amores contrariados e também outros doentes a quem Mariana auxilia na medida em que pode.
Há uma distinção bem nítida entre etnias, com um esboço de romance da lisboeta com um rapaz branco que mora na aldeia para onde se internar o operário Leão. Também se observa o comportamento da sociedade local, e faz-se uma analogia da região com o vulcão das proximidades (daí “A Casa de Lava”).
O filme é mais curioso por ser o primeiro de um diretor jovem mas desconhecido por aqui a chegar a um dos nossos cinemas. Ele como tantos de Portugal & adjacências passam ao largo da programação de rotina que privilegia o que vem de Hollywood e de estúdios europeus mais aquinhoados.
Outro ponto a se visto: a fotografia exuberante de Emmanuel Machuel. (Luzia Alvares)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

ROAD TO THE MOON

Não é filme da série (“Road to”) interpretada por Bob Hope, Bing Crosby e Dorothy Lamour, Felizmente. É um documentário muito interessante produzido por Ron Howard sobre o Projeto Apollo da NASA, apresentando depoimentos de astronautas que foram ao satélite natural da Terra quando eram jovens de 38 anos e hoje exercitam a memória com 78.
Para quem não sabe: Aldrim deu a primeira mijada interplanetária. O tripulante da Apollo 11 conta que ao descer da escada para o solo lunar não suportou e encheu o saco plástico colocado dentro da roupa espacial. “- Não agüentei”, diz ele. E quem agüentaria com tamanha emoção?
Um colega médico esbanja ceticismo ao crer no tablóide que “revelou” a filmagem do acontecimento de julho de 1969 no deserto do Arizona. Os velhinhos de hoje soltam o verbo: “-Seria muito fácil se fosse assim”. E atentam para o fato de terem sido sete expedições, o que vale dizer uma mentira repetida por sete vezes (não vale fazer piada que é conta de mentiroso).
Ouvi e vi pela TV a chegada de Armstrong e colegas no “altar dos namorados” (na época surgiu a marcha de carnaval que dizia: “Todos eles, estão errados, a lua é dos namorados”). Foi uma torcida fantástica para que tudo desse certo. E olha que a gente não morria de amores por norte-americanos. Ali eram os terráqueos tomando posse do que é seu por direito astronômico. E a ciência fazendo gol de placa.
No filme algumas falas são ligadas a preceitos religiosos, mas uma delas é interessante nesse aspecto: “- Nós sentimos a grandiosidade mística das religiões que criamos”. E explica: “não há solidão maior do que saber que se está na vastidão de um mundo tendo por companhia só com uma pessoa”. Não se trata de uma ilha, que caberia Robinson Crusoe, mas a consciência da vastidão planetária e a pequenez do homem, embora no momento venha a provar que ele é suficientemente grande para sair do casulo.
O filme é histórico. As falas talvez sejam as últimas, em público, dessa gente que entrou de cabeça na “guerra fria” e aqueceu a idéia de que a humanidade pode sair de seu berço (ou, quem sabe, voltar ao Éden na concepção de que viemos do espaço).
“Sombras da Lua”(In the Shadow of the Moon/EUA,2007) é dirigido por David Sington e conta com a participação, entre outros, de Buzz Aldrin, Neil Armnstrong, Alan Bean,Eugene Cernan, Michael Collins, Charles Drake e Jim Lovell.
Foi exibido no canal de TV por assinatura Cinemax Plus E.
Não chegou aos cinemas brasileiros e por enquanto nem ao DVD.(Pedro Veriano)

Arquivo do blog